jul 24, 2023

“A astróloga prometeu que eu seria feliz!” Minha experiência no 23º Encontro Anual de Astrologia 

Já trabalho com astrologia formalmente faz 3 anos e tem sido uma jornada maravilhosa, mas ainda sim… um pouco solitária. Como a maior parte do meu trabalho é online e com clientes, é reduzido o contato que tenho com outros astrólogos. A maioria ou é meu aluno no Contando Estrelas ou são meus mentores, tudo […]

Já trabalho com astrologia formalmente faz 3 anos e tem sido uma jornada maravilhosa, mas ainda sim… um pouco solitária. Como a maior parte do meu trabalho é online e com clientes, é reduzido o contato que tenho com outros astrólogos. A maioria ou é meu aluno no Contando Estrelas ou são meus mentores, tudo muito acadêmico, uma relação mentor-mentorado. 

Sentia falta de espaços de conversação sobre astrologia, espaços que não focassem só na técnica, mas também nas questões éticas e nas experiências que implicam viver de astrologia. É um trabalho com pouca (quase nenhuma) regulamentação, portanto não existe exatamente um protocolo e isso faz parte da astrologia como arte. 

Por causa dessas angústias, comecei a procurar eventos que fossem proporcionar uma experiência de debate com astrólogos mais antigos, conceituados na área: bingo! Dei de cara com o 23º Encontro Nacional de Astrologia, que aconteceu dia 23/07/2023. Participei de forma remota, afinal ele acontece em São Paulo, mas mesmo assim a experiência foi maravilhosa! Separei os momentos mais marcantes do evento neste post, então vem comigo!

As 5 Temáticas

Foram ao todos 5 mesas com as seguintes temáticas de debate: Uma astrologia para o mundo; Astrologia, história, arte e cultura pop; Astrologia, universalidade e diversidade; Astrologia nos tempos de Plutão em Aquário; e por fim Em defesa da astrologia.

Uma Astrologia para o mundo

Em “Uma Astrologia para o mundo” me surgiu muito a reflexão de como a globalização fez a astrologia expandir e realmente reforçar seu espaço hoje em dia. Passamos por uma história de altos e baixos e ressurgimos – como de costume –  em um momento de crise global que não consegue mais ser só acolhida pela ciência formal. A fé humana existe e persiste, a curiosidade por aquilo que nos faz sentido, mas não conseguimos explicar ainda vive e gera uma curiosidade tremenda! Quando cada área e competência respeita seus conhecimentos e honra suas funções, é possível trabalhar em conjunto.

A astrologia sempre serviu para acolher o ser humano e ajudá-lo a organizar seus pensamentos, a observar melhor como performa suas experiências na prática. Ficou ainda mais claro para mim a verdadeira função da astrologia nesse debate.

 Astrologia, história, arte e cultura pop

Nessa mesa, os convidados debateram principalmente sobre o papel da mídia na profissão do astrólogo e eles tocaram em uma ferida que me atormenta com frequência: a sensação de que o superficial gera mais alcance e muito sentido se perde. No comecinho da Oblíqua me doía muito perceber que os algoritmos eram muito maiores em conteúdos rasos que eu criava. Assim que eu resolvia fazer um conteúdo mais refinado e complexo, trazendo mais complexidade à uma análise astrológica, os números caíam. Minha necessidade de aprovação (haja terapia!) se sentia frustrada. Hoje em dia volta e meia me vejo no “trabalho de formiguinha” que um dos palestrantes mencionou: o trabalho de tentar equilibrar a superfície com o profundo. É claro que não existe o aprendizado de astrologia sem o básico, mas estereótipos como “geminiano é fofoqueiro”, “taurino é guloso”, mais atrapalham do que ajudam no seu processo de autoconhecimento.

Desta forma, estereótipos precisam ser de fato banidos da discussão sobre astrologia para que finalmente uma ponte entre um superficial verdadeiro e um profundo ético se encontrem. 

Astrologia, universalidade e diversidade

Essa mesa me trouxe insights que aplico diariamente nas minhas consultas! Atualmente vivemos diversas configurações de família. Não é mais como antigamente, onde tinha papai, mamãe e filhinhos. A mesma coisa com gênero! Antigamente Marte representava o homem e Vênus a mulher; Em Câncer no mapa você analisava a mãe e em Capricórnio o pai… Mas como analisar isso quando nossa sociedade evoluiu tanto nessas questões? O pensamento binário não consegue mais se aplicar na astrologia contemporânea e isso é ótimo! Somos feitos de energia feminina e masculina, o sexo de nascimento não é mais regra; temos figuras maternas e paternas diversas que não se restringe ao gênero também; a sexualidade se tornou muito mais complexa e flexível. É preciso conversar com seu consulente e tomar cuidado com a linguagem. 

A astrologia é uma arte-linguagem. É importante criar para si um protocolo de linguagem (eu tenho, criei inclusive uma metodologia), uma perspectiva sua de mundo que atraia consulentes que entendem essa linguagem, que se identifiquem e sejam verdadeiramente acolhidos pela nossa análise. Uma análise séria, profissional e que não vai cair só em achismos. É inclusive o que muitos leigos fazem: “ah, nada a ver dizer que Escorpião é profundo e se entrega no amor, todos os meus ex escorpianos eram tóxicos”.  Recebo muitos comentários na DM parecidos com esse! Porém a pessoa está baseando sua perspectiva apenas ao signo solar de uma pessoa e eu estou falando da essência de um signo, de um arquétipo completo e muito mais complexo. É a mesma coisa que assistir 2 minutos de um filme e dizer que ele é ruim. Além disso, não existe signo ou mapa de pessoa ruim. Pode existir duas pessoas com o mapa idêntico: uma comete atrocidades, vive infeliz, com raiva e a outra se torna uma pessoa que ajuda os outros, que se valoriza muito. É como um dos convidados disse: “mil pessoas podem ter Júpiter na Casa 12, mas em cada mapa esse Júpiter na Casa 12 vai me dizer uma coisa diferente”. 

Astrologia nos tempos de Plutão em Aquário

Essa foi minha mesa favorita! Se falou muito sobre a influência de Plutão em Aquário que entra definitivamente no céu em novembro de 2024 e traz muitas previsões sobre uma nova conexão da tecnologia com a espiritualidade. Acredito que muito dessa influência irá afetar a profissão de astrólogos e a nova geração de profissionais esotéricos digitais. O debate rendeu tanto que falaram até sobre a inclusão da inteligência artificial na produção de saberes, como tem acontecido com a popularização do Chat GPT, por exemplo. 

Também debateram sobre a astrologia ser ou não uma ciência e minha opinião permanece: não é e tomara que nunca seja. A menos que a ciência que nós conhecemos hoje em dia seja ressignificada e seus métodos questionados. Porém, espero que não, sinceramente. Deixa a ciência e a astrologia com suas devidas funções sociais e protocolos. Já vivi a ciência no mestrado e vejo que a astrologia perderia muito de sua riqueza caso fosse inserida no jeito que fazemos ciência hoje em dia, da mesma forma que a ciência se tornaria um emaranhado de ainda mais dúvidas e erros caso adotasse uma postura astrológica. 

Em defesa da astrologia

Essa mesa contou com astrólogos mais jovens e conhecidos na mídia, como Titi Vidal por exemplo. Falaram muito sobre os canais de comunicação em que a astrologia se insere, sobre a necessidade ter um conhecido mais robusto de astrologia para fazer análises e previsões éticas, sem se deixar levar por mensagens vazias e sem personalidade, como são os horóscopos de algumas revistas, redigidos por jornalistas sem a consultoria de um astrólogo.

Essa última discussão me fez lembrar muito de uma consulente que eu tive, uma senhora de 73 anos. Ela veio para um tarot e a primeira coisa que me disse foi: “fiz consulta com uma cartomante há muito tempo, quando tinha uns 30 anos. Era solteira, deprimida, estava perdida do que queria fazer. Toda vez que a gente fazia consulta eu saía de lá feliz, cheia de esperança, porque ela sempre me dizia que eu ia ser feliz. Que ia conhecer o amor da minha vida, viajar o mundo todo, teria filhos que me amavam… Acontece que ela errou tudo! Me casei três vezes com homens horríveis, tudo deu em divórcio; nunca viajei para lugar algum; meus filhos mal falam comigo hoje em dia… Continuo sozinha e infeliz.” 

As palavras tem poder. Um profissional esotérico, seja no tarot, astrologia, leitura de mãos ou reiki lida com crenças muito profundas do ser humano. Quem somos nós para fazer promessas? Quem somos nós para colocar nossos consulentes em uma lista de espera por uma felicidade que nunca chega? 

Portanto, seja você profissional esotérico ou não, mantenha-se fiel ao seu processo de autoconhecimento e faça dele um espaço dinâmico e em constante evolução, sem falsos gurus, estereótipos, fórmulas prontas de cura ou extremismos que vão da felicidade completa à infelicidade eterna em apenas uma consulta. Leia, questione, critique, permita-se errar, acertar, experimentar, enfim: permita-se viver.

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